Entrevista com Vítor Proença, presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal: “Alcácer tem potencial económico”

Alcácer do Sal afirma-se cada vez mais com um destino turístico e cultural com a realização de vários eventos. O concelho é ainda um pólo de desenvolvimento do sector agroalimentar, representando 30% da produção de arroz no país, atraindo grandes investidores na área dos hortícolas. O presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, Vítor Proença, eleito em 2013, pretende requalificar a zona ribeirinha nascente, criando um espaço de lazer e um interface de transportes.

Florindo Cardoso

 

Setúbal Mais – Quais as principais linhas de intervenção do executivo para 2016?

Vítor Proença – A primeira linha de intervenção é a afirmação do potencial económico que Alcácer do Sal tem, desde logo na componente dos produtos agroalimentares, com a valorização das associações de produtores, particularmente em domínios como o arroz, o pinhão, a floresta e os hortícolas.

A segunda linha de intervenção é respeitante à qualificação do município, com destaque para a conclusão do projecto e o lançamento do concurso para a requalificação da zona ribeirinha nascente, que confina com o projecto de interface de transportes, envolvendo toda a zona circundante à praça de touros e o actual parque de feiras e exposições, num investimento de quase 2 milhões de euros que terá a sua tradução material no próximo mandato. Este projecto implicará uma alteração das infraestruturas, deixando de haver cabos eléctricos de iluminação pública aéreos, passando a estar enterrados, criando-se um parque urbano, com uma zona de bem-estar convidativa para a população e turistas, com árvores, mobiliário urbano, corredores de mobilidade, acabando com a lama e degradação do pavimento actual através da pavimentação em calçada grossa da zona envolvente à praça de touros e do seu acesso. Terá ainda uma zona de interface de transportes, frente à Associação de Regantes, uma obra calculada em 1,3 milhões de euros, com zona de parqueamento, um terminal para transportes rodoviários, táxis e um posto de carregamento de viaturas eléctricas.

S.M. – Irá candidatar Estas obras a fundos comunitários?

V.P. – Sim. Os projectos de requalificação da zona ribeirinha e o interface de transportes estão na estratégia do PEDU (Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano), que foram submetidos à CCDR Alentejo (Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional), autoridade gestora dos fundos comunitários. Temos ainda outro projecto de requalificação de Alcácer, que é o Museu Pedro Nunes (antiga Igreja de Espírito Santo), junto aos Paços do Concelho, cujo projecto está ser avaliado pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo, na ordem de 1 milhão de euros, criando um novo espaço museológico dedicado ao comércio no rio Sado e da importância da baixa da cidade na movimentação de mercadorias, como grande autoestrada fluvial.

S.M. – Voltando às prioridades para 2016…

V.P. – Vamos iniciar este ano a iluminação do nosso património edificado, nomeadamente as muralhas do castelo, as igrejas de Santiago, de Santa Maria (Matriz) e do Torrão. Pretendemos dar maior visibilidade a Alcácer, tornando-a mais luminosa para quem passa pela A2 e pelo IC1, por onde circulam cerca de 16 mil pessoas por dia.

A terceira linha de intervenção será a educação e o social. Vamos inaugurar o Centro de Educação Pré-Escolar do Morgadinho, com capacidade para 200 crianças, com muita qualidade, espaço e luz, um investimento de cerca de 1 milhão de euros, que deverá entrar em funcionamento no próximo ano lectivo. Apostamos em novos equipamentos sociais, com o apoio do município, como o novo Lar de Casebres e o Centro Social da Comporta, com valências de centro de dia e jardim-de-infância, a inaugurar neste primeiro semestre.

Temos um investimento muito significativo em renovação das redes de abastecimento de água e esgotos em vários locais. Prevê-se também investir em arruamentos e acessos dentro das localidades, pavimentação de caminhos rurais e estradas como a de Casebre, para que as pessoas tenham maior mobilidade. Vamos também avançar com obras mais pequenas, perto das casas das pessoas, de embelezamento e melhoramento no sentido de melhorar a vida dos munícipes e tornar Alcácer mais atractiva para os visitantes.

Haverá uma forte aposta na componente dos eventos e certames no sentido de atrair mais gente para Alcácer. Iniciamos também a revisão do Plano Director Municipal, cujo processo está a correr bem.

S.M. – Qual é a situação financeira do município?

V.P. – O município termina o ano de 2015 sem pagamentos em atraso, ou seja com mais de 90 dias, com mais de 1,8 milhões de euros em receita e com mais de 900 mil euros de despesa face aos respectivos valores orçamentados. Posso dizer que o município vai terminar o ano de 2016 apenas com 300 mil euros de empréstimos de médio e longo prazo, facto que não acontece em mais nenhuma câmara do distrito de Setúbal. Temos a carga fiscal mais baixa do distrito, atenuada ainda mais neste mandato, com incentivos à instalação de micro empresas, no sentido de captar mais investimento. Quando assumimos a gestão da autarquia (2013), existia uma dívida oculta de 1 milhão de euros, dos quais 50% era dívida às Águas Públicas do Alentejo, bem como à Assembleia Distrital de Setúbal e a relativa à Taxa de Recursos Hídricos, estando actualmente a situação resolvida, através de acordos de pagamento. Hoje não há dívida oculta. Devo dizer que temos dado fortes apoios logísticos ao movimento associativo e efectuado uma boa gestão interna da frota e do armazém, substituindo o material obsoleto.

 

S.M. – Uma das grandes apostas deste executivo é a afirmação de Alcácer como terra de cultura e atracção turística…

V.P. – Queremos que o aumento de visitantes no concelho se transforme em economia. Pretendemos que haja mais alojamento turístico e sobretudo projectos que dêem rentabilidade às camas turísticas existentes. É o caso do Hotel do Vale do Gaio, com uma localização privilegiada, junto à barragem, no Torrão, onde neste momento está em estágio a selecção olímpica de Remo da Noruega, onde gastaram 600 mil euros com o transporte de embarcações. A seguir vem a selecção da Dinamarca e já lá esteve a do Uzbequistão. É a primeira vez que tal acontece no concelho. A Pousada de Alcácer D. João II é a segunda mais procurada do Alentejo e Ribatejo, logo a seguir à de Loios (Évora). A restauração a partir da Primavera tem números recorde de clientes. A zona da Carrasqueira tem uma procura enorme a partir de Fevereiro. Alcácer é uma terra convidativa. O município vai estar na BTL (Bolsa de Turismo de Lisboa), onde duplicará a sua área, no pavilhão do Alentejo, valorizando o produto do arroz.

Estamos já a preparar a PIMEL (Feira do Turismo e das Actividades Económicas), que irá ter lugar de 24 a 26 de Junho, com o tema “Alcácer, Terra Fértil”, valorizando a alimentação e os produtos locais. Alcácer está neste momento a ser procurada por investidores externos para a produção hortícola. Há um projecto da Herdade da Comporta para ampliação da área dos produtos hortícolas. Neste momento, já produz anualmente 60 mil toneladas de produtos verdes, na sua larga maioria exportados para o Centro e Norte da Europa, desde brócolos, alhos francês às saladas e arroz. O grupo francês Làrrere comprou a Herdade do Monte Novo Sul, com 640 hectares, onde será produzida essencialmente cenoura. Há também a aquisição de 240 hectares por parte de um grande produtor do Oeste de pêra rocha e maçã golden, que poderá conduzir à criação de uma central fruteira. Um produtor de Alcochete, das Hortícolas Saturnino, que fornece o grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce), também vai apostar na produção de cenoura, adquirindo 200 hectares nos arredores de Alcácer. Há um caso muito bem sucedido de macieiras, que ainda aparece com a marca de maçã de Alcobaça mas que é produzida no Torrão, com grande sucesso. Existem ainda outros projectos nos vinhos e azeites. Lembro que Alcácer continua a representar 30% da produção do arroz nacional.

 

S.M. – Em relação ao IC1, já tem alguma resposta do governo?

V.P. – Não. Eu, juntamente com o presidente da Câmara Municipal de Grândola, pedi uma reunião com o novo secretário de Estado das Infraestruturas, mas ainda não obtive resposta. Na última reunião com as Infraestruturas de Portugal, realizada aqui em Alcácer, foi-nos dito que não há novidades. É um risco imenso para quem faz este percurso, onde circulam 8 mil veículos por dia. Esta não é uma estrada de Alcácer ou de Grândola, mas do país, e consideramos que é uma falha grave e não se entende como há quatro anos não se ultrapassa este problema.