Entrevista com Nuno Canta, presidente da Câmara Municipal do Montijo: “O PSD e a CDU juntaram-se para formar uma maioria negativa, de bloqueio à actividade da câmara”

O orçamento da Câmara Municipal do Montijo para 2017 foi chumbado pelos vereadores do PSD e da CDU, pela segunda vez neste mandato. Nuno Canta, presidente da autarquia, acusa a oposição de se unir para criar uma “maioria negativa” e de uma “atitude irresponsável”, que coloca em causa o funcionamento e a gestão do município.

Florindo Cardoso

 

Setúbal Mais – A oposição chumbou o orçamento da câmara para 2017. Como classifica a posição dos vereadores do PSD e da CDU?

Nuno Canta – É uma posição irresponsável porque limita a acção da câmara municipal em desenvolver os seus projectos, actividades e até o seu próprio funcionamento. Este voto contra obriga novamente a uma negociação com os partidos da oposição. Isto apesar de  termos respeitado o estatuto de oposição, e nenhum deles ter dito nada sobre exigências e depois votaram contra a aprovação do orçamento para 2017, num acto de irresponsabilidade. Este orçamento espelha as opções com que nos comprometemos com os montijenses, como o funcionamento, os salários dos funcionários, o apoio social às escolas e os investimentos. O nosso programa eleitoral, resultante do voto directo e livre, foi o vencedor nas autárquicas e agora impedir desenvolver os compromissos que temos com as pessoas, é uma atitude anti-democrática. Quem ganha, governa e presta contas.

S.M. – Considera que esta posição se deve à proximidade das eleições autárquicas de 2017?

N.C. – Sim. Do meu ponto de vista, esta rejeição do orçamento por parte dos vereadores do PSD e da CDU é mais irresponsável, porque este diz respeito ao próprio ano das eleições autárquicas. A oposição, por todos os meios, tenta-nos condicionar na execução dos nossos compromissos eleitorais. Ainda mais grave é os vereadores da oposição terem votado contra a proposta do mapa de pessoal, onde propúnhamos a entrada de novos trabalhadores para as escolas, jardins e higiene urbana, que são, como sabemos, sectores carenciados de pessoas para executar esses trabalhos. Aliás, a própria oposição, particularmente a CDU, tem vindo a reivindicar a necessidade de colocar mais trabalhadores. É estranho porque reivindicam e depois votam contra o mapa de pessoal. Considero isso gravíssimo porque põe em causa a execução e os compromissos que temos os eleitores. Isto num ano em que o poder local comemora quarenta anos. As primeiras eleições autárquicas foram em 1976, pela primeira vez foram eleitos novos executivos para as câmaras municipais, em votações democráticas e livres. Esta posição, de inviabilizar o orçamento, não dignifica o poder local. Estamos num momento em que deveria haver mais convergência, consenso e enfoco nos problemas e desafios da cidade do Montijo e não pensar nas tácticas eleitoralistas dos partidos políticos. É estranho, porque são partidos que não estão relacionados, o PCP, Partido Ecologista “Os Verdes” e o PSD juntarem-se para formar uma maioria negativa, de bloqueio à actividade da câmara municipal. Demonstra já o desespero para as próximas eleições. Não precisavam destes esquemas do orçamento para fazer política mas sim de soluções, propostas, desafios e alternativas para os problemas da cidade.

S.M. – Vai tentar reunir com os partidos da oposição para resolver a situação?

N.C. – Pretendemos reunir novamente com os vereadores da oposição para verificar se há possibilidade de consenso.

S.M. – E isso vai ser próximo?

N.C. – Vamos estabelecer no início de Novembro a possibilidade de reunir para permitir encontrar consensos para viabilizar o orçamento, embora perceba que, perante esta posição, será difícil ter outras soluções plausíveis.

S.M. – Se tal não acontecer, terá de gerir novamente a câmara com recurso a duodécimos, como aconteceu há dois anos?

N.C. – Se não houver consenso teremos de transpor o orçamento deste ano para 2017. Apesar da oposição ter votado contra a proposta do mapa de pessoal e o funcionamento da câmara e os investimentos, não podemos abdicar de fazer funcionar a câmara.

S.M. – Em relação aos projectos com fundos comunitários?

N.C. – Esses projectos ficam também comprometidos em parte. Os fundos comunitários eram uma grande aposta deste orçamento, de elencá-los para que se começasse um novo ciclo de Portugal 2020, e isso, ficou agora, inviabilizado e sem se poder avançar. Teremos de encontrar soluções, em consenso com os partidos. É um voto contra tudo, após termos os programas aprovados, como o PEDU (Programa Estratégico do Desenvolvimento Urbano), o Pacto de Desenvolvimento Territorial e Coesão da Área Metropolitana de Lisboa. Parecia que havia um consenso.

S.M. – Pensa que este voto é mais contra a câmara do que contra o orçamento?

N.C. – A política faz-se com propostas diferenciadas e não com esta questão de votar contra o orçamento e o desenvolvimento da cidade. Não é muito plausível usar alguns mecanismos, pouco importantes e contra os interesses da cidade, para se fazer política e vingar os interesses partidários.

S.M. Vai explicar esta situação em carta aberta à população?

N.C. – Sim. Vamos lançar na próxima semana esta carta aos meus concidadãos, a quem devo, como presidente da câmara, responsável pela gestão municipal e enquanto político, prestar contas.