Convento de São Paulo abre ao público em 2017: Investimento de 455 mil euros

Após anos de degradação e de abandono, o Convento de São Paulo, na encosta da Arrábida, vai ser recuperado pela Associação de Municípios da Região de Setúbal. Um investimento de 455 mil euros que permitirá reabrir o espaço ao público no primeiro semestre de 2017.

Florindo Cardoso

A Associação de Municípios da Região de Setúbal (AMRS) celebrou, na passada semana, o contrato com a empresa Signinum – Gestão de Património Cultural para a empreitada de reabilitação do Convento de São Paulo e da Casa da Nora, edifício anexo, no valor de 455.439,07 euros, situado na encosta da serra da Arrábida. Trata-se de mais um passo significativo no processo que a AMRS iniciou há cerca de cinco anos na recuperação do seu património de valor histórico.

O Convento de São Paulo, do séc. XIV, em avançado estado de degradação, depois de cinquenta anos de abandono, vai agora sofrer profundas obras de requalificação que o dotará o imóvel das condições essenciais para poder ser visitado e usufruído pela comunidade no primeiro semestre de 2017.

De salientar que a AMRS tem vindo a recuperar o seu património, nomeadamente os dois conventos, existentes na Quinta de São Paulo, o de S. Paulo e dos Capuchos, este já em ruínas, situados com uma distância de cerca de 300 metros e sensivelmente na mesma elevação da falda da Serra dos Gaiteiros, com uma vista para a baía do Sado.

Rui Garcia, presidente do conselho directivo da AMRS, disse que este é “mais um passo muito significativo num processo que a associação iniciou há cerca de cinco anos de intervenção para recuperar o seu património na Quinta de São Paulo, que são dois conventos de grande valor histórico”, frisando que “estamos muito empenhados e felizes por finalmente termos condições para intervir significativamente na sua recuperação”.

O autarca, que é também presidente da Câmara Municipal da Moita, refere que esta acção da AMRS, “marca uma diferença em relação a muitas situações que se mantêm de abandono ou incapacidade para intervir na salvaguarda do património”, lembrando que a AMRS investiu nos últimos anos 400 mil euros para conter o avanço da degradação, travando a deterioração, dos dois conventos e recuperação de alguns elementos, como a Casa de Fresco, um edifício anexo do Convento dos Capuchos.

Sobre a actividade prevista para o Convento de São Paulo, Fátima Mourinho, secretária-geral da AMRS, disse que “não queremos criar um elefante branco naquele espaço” mas permitir às pessoas que “usufruam” deste património, recusando qualquer uso turístico. A responsável adiantou que pretende-se que o espaço receba actividades culturais e visitas programadas.

Por sua vez, o arquitecto responsável pelo projecto, Vítor Mestre, salientou que a intervenção divide-se em três áreas: a nave da igreja, a sacristia e o claustro, “um espaço amplo e o que reunia piores condições com a abóbada em pré-colapso, que já foi consolidada; o antigo refeitório, com a respectiva cozinha e sala anexa, que “vamos refuncionalizar neste momento, com a melhor vista para a baía da Setúbal. “A ideia da AMRS foi começar, pelo telhado, para travar a degradação porque havia graves infiltrações, por má drenagem das águas pluviais, uma obra que durou cinco anos, de forma silenciosa, sem alarido nenhum”, disse, elogiando o dono da obra por “esta capacidade de esperar para criar condições para fazer a obra”.

Recorde-se que este convento já sofreu obras de sustentação, marcando assim o início da intervenção no mesmo. As obras centraram-se na implantação de uma estrutura de protecção das águas da chuva, consolidação da estrutura principal do edifício e cobertura de paredes expostas aos elementos. Toda a envolvente tem sido alvo de regulares intervenções ao nível da limpeza dos terrenos e arranjo dos caminhos.

De referir que a Signinum é especialista neste género de trabalhos, tendo no seu historial a recuperação de importantes edifícios históricos, designadamente a Torre dos Clérigos, no Porto, ou o Museu dos Coches, em Lisboa.
Em caixa:

Os dois os monumentos em causa

Conventos com história

O antigo Convento de Nossa Senhora da Consolação de Frades da Ordem de São Paulo de Alferrara é mais conhecido por Convento de São Paulo e foi fundado em 1383). O acesso é feito a partir do vale através de um íngreme caminho em zigue-zague, suportado por muros de alvenaria contrafortados. Este acesso termina numa esplanada em frente da igreja, com esplêndida vista sobre o Sado e a cidade de Setúbal, delimitado por um muro com assentos de pedra.

A igreja tem uma nave rectangular coberta por abóbada de berço que termina no arco triunfal, tendo o chão fragmentos de túmulos. Possui ainda dois corpos monacais: o mais estreito, onde estavam as celas e dormitórios, do lado direito. Do lado esquerdo da igreja situa-se o corpo do claustro, com um único andar coberto de terraço.

O Convento de Nossa Senhora da Conceição dos Frades Franciscanos Capuchos de Alferrara , vulgo Convento dos Capuchos de Alferrara, foi fundado em 1578, estando completamente em ruínas. Neste Caso, a AMRS não tem data para avançar com a recuperação mas já fez obras para travar a continuação da deterioração das estruturas do imóvel.

Escavada na encosta, situa-se a Casa de Fresco, da Fonte Santa, espaço em forma de gruta artificial totalmente decorada de embrechados, a qual devia ser utilizada pelos eremitas paulistas como local de meditação, já foi recuperada. A Casa do Fresco tem o interior decorado de frescos, de autores desconhecidos, de finais do século XVII, e tinha água corrente. A construção foi edificada junto a uma linha de água, que atravessa a sala. No interior existem bancos, para melhor acomodar quem quisesse aproveitar o excepcional ambiente de relaxamento e convite à reflexão.