Praça de Touros transformada em multiusos: Câmara vai adquirir imóvel centenário

A Câmara Municipal de Setúbal vai proceder à aquisição da Praça de Touros “Carlos Relvas”, através de uma proposta de financiamento de leasing imobiliário, no valo de 1,1 milhões de euros.

A presidente da Câmara Municipal de Setúbal, Maria das Dores Meira, deseja que o recinto, inaugurado a 15 de Setembro de 1889 e que chegou a ter uma lotação para mais de quatro mil lugares, passe a servir “o concelho como infraestrutura destinada a eventos das mais diferentes naturezas e com capacidade para acolher milhares de pessoas”.

A edil adianta que estão “reunidas as condições para a aquisição do imóvel”, através de financiamento de leasing, com um preço base de mais de um milhão de euros, para o qual vai ser aberto um concurso público.

Para o vereador PSD/CDS, Luís Rodrigues, esta “pode vir a ser uma boa iniciativa”, mas a proposta “não refere os custos de manutenção” nem apresenta um “relatório técnico” que sustente a proposta, tendo pedido o adiamento da votação. Maria das Dores Meira lembrou que o adiamento iria fazer com que a proposta não fosse à próxima Assembleia Municipal marcada para amanhã, dia 24 de Fevereiro, tendo por isso, o vereador, votado contra.

Também os vereadores do PS, que não são contra a aquisição do espaço, votando a favor, quiseram saber quanto custa a “manutenção e como será paga”. Dores Meira explicou que este assunto é discutido há 10 anos, mas a câmara quer continuar a recuperar equipamentos degradados, como aconteceu com o Quartel do Onze, o Convento de Jesus e o Forte de S. Filipe. “Queremos proceder ao fecho da praça, a exemplo do que aconteceu em Lisboa”, para ali “nascer um espaço multicultural para acolher concertos, espectáculos culturais e desportivos, como por exemplo o festival de ginástica”, disse Maria das Dores Meira.

A autarca sadina sublinha ser do “interesse municipal a preservação do edificado” e que se “encontram reunidas as condições para a aquisição do imóvel”, processo a desenrolar por via de financiamento de leasing imobiliário para o qual vai ser aberto um concurso público.

A presidente da Câmara Municipal de Setúbal justifica esta aquisição com “a necessidade que o concelho sente em possuir uma infraestrutura que permita a realização de diversos eventos com capacidade para albergar milhares de pessoas” e “o interesse municipal na preservação deste edificado”.

A praça de touros tem vindo a ser utilizado para diferentes actividades para além da que presidiu à sua edificação, destacando-se neste contexto a realização do desfile das marchas populares de Setúbal, acontecimento que congrega milhares de pessoas anualmente.

O espaço possui uma lotação de 4.205 lugares, seguindo a tipologia habitual para a época, com planta centralizada e bancadas dispostas em terno da arena circular, encontrando-se numa posição geográfica privilegiada no que concerne às acessibilidades e estacionamento.


A nossa praça de touros

No final do Verão de 1889, em 15 de setembro, e quando reinava em Portugal D. Luís I, seria inaugurada a maior e mais importante praça de toiros que Setúbal jamais tivera, a qual seria batizada com o nome do príncipe herdeiro à coroa de Portugal, D. Carlos. Uma semana depois o jovem completaria 26 anos e no mês seguinte herdaria o trono após morte súbita de seu pai.

A nova praça de touros de madeira e alvenaria era uma edificação cuja construção fora adjudicada a José Francisco Machado. Posteriormente, no mesmo local, seria construída nova estrutura mandada erigir por uma sociedade que tinha como principal representante António José Baptista, proprietário do terreno.

A praça de touros foi erigida de forma octogonal, como era uso corrente na época e dispunha inicialmente de 4.800 lugares, sendo posteriormente aumentada a capacidade para poder comportar 5.500 espectadores.

A construção do singular imóvel foi uma iniciativa da “Empresa de Recreios Setubalense”, a mesma sociedade proprietária do bonito Teatro D. Amélia, antecessor do Fórum Municipal Luísa Todi.

Na corrida inaugural foram lidados 10 toiros do ganadeiro António Feliciano Correia Branco toureados pelo cavaleiro Fernando Oliveira e pelos bandarilheiros José Joaquim Peixinho, Rafael Peixinho, João Rio Sancho, Filipe Aragó Minuto, Vicente Mendez Pescadero, José Félix e José da Costa.

Após a implantação da República, em 5 de Outubro de 1910, o importante edifício viu ser substituída a sua régia identificação pela plebeia denominação de “Praça de Touros Carlos Relvas”.

Os republicanos mudaram o nome ao espaço, porém, ou por se terem esquecido, não terem reparado no pormenor, ou seja lá por que motivo fosse o facto é que a designação inicial ainda hoje ali se mantém num artístico trabalho em ferro que encima a sua entrada principal.

Rui Canas Gaspar