O adeus a homem bom

Morreu Augusto Pólvora, um homem bom. Conheci há alguns anos este político que sempre tinha um sorriso para falar sobre qualquer tema da sua terra do coração, Sesimbra. Com ar afável, um cavalheiro, simples nos seus actos, disponível para ajudar o próximo.

Respeitava imenso o trabalho dos jornalistas, não recusava entrevistas, e entendia a importância da comunicação social local e regional no desenvolvimento da comunidade e na divulgação dos projectos da autarquia.

Lembro-me sempre da sua boa disposição, ar alegre, sorriso fácil. Nunca vi Augusto Pólvora triste. Era um homem de consensos, admirado pelos municípes e os adversários políticos.

A última vez que o vi, estava doente, quase irreconhecível, tive alguma dificuldade em reconhecê-lo. Mesmo assim, o sorriso estava lá, embora os olhos tristes.

Tenho uma admiração enorme por este homem. Vítima desta doença maldita, o cancro que mata tanta gente. Sinto uma proximidade. Em 2009, enfrentei uma situação oncológica complexa, sem muitas esperanças de sobreviver. A situação era bem complicada mas consegui sobreviver, com muitas lutas pessoais e força em viver.

Acredito que Augusto Pólvora estava agarrado à vida. Infelizmente, algumas vezes a doença vence o homem. Não há força que chegue para vencer o cancro. É foi um caso destes. Lutou muito mas não conseguiu. O cancro levou um homem bom.

Fiz questão de estar presente, a títul pessoal e como jornalista no desempenho da sua função, nas cerimónias fúnebres na Igreja Matriz de Sesimbra. Fiquei impressionado com a moldura humana na igreja e no adro. Milhares de pessoas, muitas com lágrimas. Só a ouvir palavras positivas sobre ele. Um silêncio de respeito por este autarca que dedicou grande parte da sua vida à causa pública.

Sesimbra não pode esquecer este homem que lutou pela sua terra. Basta olhar para a requalificação da Fortaleza de Santiago. Está ali a sua alma. Foi a sua paixão recuperar o património.  Deixa uma grande obra.

Achei curioso a escolha do poema “Sou capitão da minha alma”, de Ernest Hemingway, na cerimónia, declamado de forma brilhante com grande vigo. Não sei quem escolheu mas achei uma óptima escolha. Até porque foi também o poema de eleições de Nelson Mandela.

Deixo aqui esse pequeno poema, em sua homenagem.

Invictus

Dentro da noite que me rodeia

Negra como um poço de lado a lado

Agradeço aos deuses que existem

por minha alma indomável

 

Sob as garras cruéis das circunstâncias

eu não tremo e nem me desespero

Sob os duros golpes do acaso

Minha cabeça sangra, mas continua erguida

 

Mais além deste lugar de lágrimas e ira,

Jazem os horrores da sombra.

Mas a ameaça dos anos,

Me encontra e me encontrará, sem medo.

 

Não importa quão estreito o portão

Quão repletade castigo a sentença,

Eu sou o senhor de meu destino

Eu sou o capitão de minha alma.