Entrevista com Frederico Rosa, presidente da Câmara Municipal do Barreiro: “É impensável que o terminal tape o rio e quase nos encaixote”

Frederico Rosa Presidente da Câmara Municipal do Barreiro

Frederico Rosa foi eleito presidente da Câmara Municipal do Barreiro nas eleições autárquicas de 1 de Outubro, derrotando a CDU após 12 anos no poder. O edil socialista defende o crescimento sustentável do concelho através do desenvolvimento turístico, reabilitação urbana, recuperação da frente ribeirinha, criação de emprego qualificado e a fixação de jovens casais. Defende ainda a modernização administrativa da autarquia.

 

Florindo Cardoso

Setúbal Mais – Quais os principais desafios da sua gestão para os próximos quatro anos?

Frederico Rosa – Temos de criar políticas para o desenvolvimento económico do Barreiro. É preciso dar um grande enfoque ao turismo, já que temos uma posição privilegiada para desenvolver a oferta turística, quer pelos territórios disponíveis para serem potenciados quer pela cultura e pelo património industrial que possuímos. É preciso chegar ao outro lado do rio Tejo, não podemos estar à espera que os visitantes nos venham bater à porta para conhecer o Barreiro.

Geralmente as pessoas têm a percepção errada quanto ao Barreiro, nomeadamente de ficar longe de Lisboa e de apresentar elevados níveis de poluição, factos que não são verdade. Estamos a 20 minutos do Terreiro do Paço, onde estão milhões de turistas e que não vêm cá, de forma mais organizada, porque ainda não temos uma oferta complementar a Lisboa. Para o efeito de complementar a oferta temos de implementar políticas de reabilitação urbana, isto porque a parte antiga do Barreiro está há décadas em decadência. Acreditamos que o turismo pode ser a alavanca para toda esta zona antiga da cidade, porque tem uma identidade própria e isso é atractivo para quem nos visita.

Para além disso, para combater o envelhecimento populacional, é preciso reter casais jovens que constituirão famílias e isso implica uma aposta grande na educação. Temos capacidade para criar valor para que um casal jovem tenha cá os filhos. Temos uma oferta de dois livros escolares do 5.º ao 12.º ano, das disciplinas estruturantes. Temos de colocar todos os equipamentos do movimento associativo ao serviço da nossa comunidade escolar para melhor qualidade de vida das crianças.

É por aqui que vamos conseguir dar uma nova vida às colectividades. Não faz sentido existir um movimento associativo ligado ao desporto, cultura e actividade artística e haver poucos jovens a ter contacto com desportos de rio, quando temos 6 Km de frente ribeirinha, ou haja grupos de teatro e as crianças das nossas escolas não tenham acesso a um contacto artístico na escola. Também para combater o envelhecimento populacional e a perda de qualificação dos residentes há que reforçar, através do turismo, o nosso comércio local mas por outro lado ter a capacidade de reter a população qualificada, rejuvenescer a cidade, de modo a atrair empresas que criarão um emprego qualificado.

O turismo aqui engloba desenvolvimento económico, cultura, educação e novas dinâmicas para o nosso comércio local. São estas as grandes prioridades a nível externo. A outra prioridade a nível interno é a modernização administrativa, com a desmaterialização dos processos, tornando-os mais ágeis, e os serviços com maior proximidade e qualidade prestada à população. Temos casos, em vários edifícios da câmara degradados, que é impossível ao trabalhador dar resposta por falta de condições de trabalho. Queremos dar já os primeiros passos em 2018, contabilizando em orçamento algumas melhorias, ganhando eficiência dos serviços.

S.M. – Em relação ao terminal de contentores qual é a sua posição?

F.R. – Tenho uma posição de princípio de que o terminal deve encaixar-se na estratégia do Barreiro mas não deve ser a estratégia do Barreiro. Parece um detalhe mas não é. Obviamente que não vamos ficar inertes à espera, temos de ser proactivos para arranjar uma solução. É impensável que o terminal, conforme o projecto apresentado, tape o rio e quase que nos encaixote, tirando a vista do Barreiro para a cidade de Lisboa. Qualquer localização do terminal tem de salvaguardar a terceira travessia sobre o Tejo e o corredor que está reservado, um projecto estruturante para o concelho. Não é um processo fácil, o terminal de contentores pode ser um grande pólo de desenvolvimento do concelho, mas não podemos condicionar o desenvolvimento futuro do Barreiro a qualquer preço. Tendo estas posições de princípio que são públicas, queremos apresentar as nossas razões mais técnicas na próxima reunião de trabalho constituído pelo governo para analisar esta questão.

S.M. – Está confiante que será encontrada uma solução que sirva os interesses das duas partes?

F.R. – Sim. Queremos muito que o terminal de contentores seja uma realidade mas não a qualquer preço nem ser um bloqueador do desenvolvimento e da qualidade de vida do Barreiro nem das gerações futuras. Tem de haver um trabalho em conjunto e estou convencido que todas as partes estão com grande vontade de trabalhar em conjunto e de arranjar soluções.

S.M. – Em relação à Baía do Tejo, como encara os investimentos em curso?

F.R. – A Baía do Tejo (empresa de gestão territorial e de parques empresariais) tem projectos fundamentais para o Barreiro e está integrada na malha urbana da cidade. Defendo uma relação muito estreita, franca e aberta, criando sinergias. O Barreiro tem de aparecer como local de destino dos investidores, já que precisamos de todos os parceiros para ter escala e relevância para chegar a cada vez mais a estes. Do que conheço do trabalho que têm feito, estamos perfeitamente alinhados no desenvolvimento da cidade. Já reunimos com a administração da Baía do Tejo e temos mantido conversas regulares com o objectivo de desenvolver o Barreiro e a Baía do Tejo tem um papel fundamental, quer no desenvolvimento quer na integração da malha urbana de terrenos que podem ser potenciados.

S.M. – Em relação à zona ribeirinha, o que defende?

F.R. – A estação fluvial é a grande porta de entrada do Barreiro e, neste momento, não é um cartão de visita que se apresente a ninguém. O nosso desenvolvimento económico tem de ser pensado sempre numa estratégia integrada do eixo: actual estação dos barcos, estação antiga, Alburrica, Quinta de Braamcamp e Barreiro Velho. Temos de instalar um posto de turismo na estação fluvial, é onde faz sentido, queremos avançar rapidamente. A seguir, na estação antiga dos barcos, temos de trabalhar, juntamente com a Secretaria de Estado do Turismo e a Infraestruturas de Portugal, para criar condições para estar ao serviço da recepção do turista e das pessoas. A estação antiga tem arquitectura e vista lindíssimas, não pode continuar degradada. Sabemos que a intervenção neste espaço está na esfera de outras instituições, mas estamos a fazer muita pressão para que a mesma seja integrada em fundos comunitários para recuperação do imóvel. Sabemos que há interessados naquela zona e temos de colocar este património ao serviço do Barreiro. A Quinta de Braamcamp, com 20,5 hectares de frente para o rio e Lisboa, tem de estar ao serviço do desenvolvimento económico e ser um local de visita do turista, onde se criará valor e postos de trabalho, sendo que o visitante depois poderá conhecer o resto da cidade, como a rota do património industrial. O turismo pode reforçar o emprego já existente no comércio local e criar emprego mais especializado nesta área.

S.M. – Em relação ao novo aeroporto na Base Aérea do Montijo, tem implicações no desenvolvimento do Barreiro?

F.R . – Enquanto infraestrutura de potencial de desenvolvimento económico pode ser benéfico mas temos de ser proactivos na criação de condições para acolher grande parte das empresas de apoio logístico associadas ao aeroporto. O Barreiro, estando no centro geográfico do Arco Ribeirinho Sul, tem de atrair este tipo de empresas. Temos de pensar com Baía do Tejo trazer para o Barreiro as vantagens de ter no Montijo um aeroporto.

S.M. – O PS ganhou sem maioria absoluta. Como vai ser a governação da câmara?

F.R. – O que estamos a fazer é igual para todos os partidos políticos, sem acordos escritos, mas com uma relação de lealdade. Os resultados eleitorais reflectem uma mudança. Estamos aqui para assumir essa mudança e não acredito que alguém queira bloquear a decisão dos barreirenses. Com o PSD tivemos uma conversa aberta, e alcançou-se um entendimento, e o vereador sempre se mostrou disponível para trabalhar pela cidade. Com os vereadores da CDU temos mantido também um diálogo aberto e o nosso propósito é oferecer pelouros. Não basta dizer que se quer trabalhar, é importante dar o passo em frente e estou convencido que as pessoas da CDU querem trabalhar pelo Barreiro, assumindo pelouros.