Montijo apoia aeroporto na base aérea:  Presidente defende nova ligação à ponte Vasco da Gama

Nuno Canta manifesta satisfação pelo decorrer de negociações da ANA (Aeroportos de Portugal) com a Força Aérea para abrir a base n.º 6 à aviação civil, defendendo uma nova ligação da Ponte Vasco da Gama para servir a nova infraestrutura.

O presidente da Câmara Municipal do Montijo, Nuno Canta considera que para adaptar a base aérea do Montijo a aeroporto civil, em alternativa a Sintra e a Alverca, será importante a articulação com a ponte Vasco da Gama através de uma nova ligação directa à cidade, há muito reivindicada, mas nunca concretizada. Ainda este mês deverá existir um acordo entre a ANA e a Força Aérea Portuguesa (FAP), que deve ser indemnizada pela empresa controlada pelos franceses da Vinci Airports.

“Já não é a Portela+1, mas uma extensão do aeroporto da Portela”, salienta o presidente da Câmara do Montijo, acrescentando que o aeroporto de Lisboa passa “a funcionar com duas pistas, uma na margem norte e outra na margem sul” do Tejo. Além da conclusão da circular externa da cidade, com uma “ligação franca ao aeroporto”, o edil defendeu uma nova avenida com ciclovia ao cais fluvial do Seixalinho, para “utilização dos catamarãs da Transtejo como elemento de transporte público da nova infraestrutura aeroportuária até Lisboa”.

Num “caderno de encargos” entregue pela autarquia à ANA, para viabilizar a adaptação da base, consta ainda o abastecimento de água e tratamento de esgotos pelos serviços municipais.

Nuno Canta admitiu que os impactos na região seriam maiores com a construção de um novo aeroporto em Canha, no Campo de Tiro de Alcochete, com grande parte do território no município do Montijo, confiando numa “gestão eficaz dos danos colaterais no ambiente”. “Neste momento estamos a falar de uma coisa mais reduzida, mas com impacto, na cidade do Montijo e nesta parte do arco ribeirinho sul, muito superior”, do ponto de vista económico, frisou o autarca, apontando benefícios no turismo também para os municípios da Moita, Barreiro e Alcochete.

O autarca espera que apareçam projectos para “alguns hotéis”, fazendo regressar ao século XVIII, quando o Montijo (então Aldeia Galega) era sede do serviço postal da Mala Posta, e também para o desenvolvimento da logística e da indústria na região.

O secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro, já anunciou que o Governo quer assinar, antes do fim da legislatura, um memorando com a ANA, a FAP e as autarquias para o novo aeroporto.

Na base aérea n.º 6 operam aeronaves de transporte, vigilância, busca e salvamento, como o Hércules C-130 e os helicópteros EH-101 “Merlin”, prestando também apoio aos helicópteros Lynx MK95 da Marinha.

Numa área com 1.000 hectares existem duas pistas, com cerca de 2.440 metros de comprimento e 45 metros de largura, admitindo-se que, para o uso civil, seja prolongada e repavimentada uma das pistas e construídas instalações aeroportuárias.

Já o presidente executivo da transportadora aérea low-cost, Ryanair, Michael O’Leary, defendeu na passada semana que é urgente a abertura de um aeroporto complementar na Base Aérea do Montijo, acusando a Vinci, gestora dos aeroportos portugueses, de estar a limitar a capacidade de crescimento da companhia. “Lisboa pode crescer muito mais. É altura de pensar no Montijo. Queremos investir em Lisboa, mas neste momento estamos bloqueados pelo aeroporto da Portela”, disse o responsável da companhia área de baixo custo, em conferência de imprensa, em Lisboa.

Devido aos impactes económicos positivos

População e comerciantes concordam

Na localidade Samouco, já no concelho de Alcochete, mas às portas da Base Aérea n.º 6 do Montijo, a utilização civil da infraestrutura militar colhe opiniões favoráveis, pela esperança de “mais postos de trabalho”. Essa é a opinião de Rute Marques, 35 anos, empregada numa pastelaria da vila.

“Os impactes em si, se formos a ver pelo lado da criação de emprego, vão ser muito bons”, reconheceu Miguel Santos, 37 anos, técnico de informática, que apontou, no entanto, a desvantagem constante “do barulho dos aviões”, como “já se vê com os testes que andam a fazer”.

Na padaria do mercado, Maria Dolorosa, 69 anos, referiu a vantagem “nos lugares de trabalho” e em “mais freguesia” no comércio e no imobiliário.

“É capaz de ser um bocadinho de barulho a mais, acho que sim. Mas não é nada que não se passe, não é? Porque em Lisboa também têm lá [o aeroporto] e vivem lá há tantos anos”, notou a comerciante.

Para Guilherme Barbosa, 76 anos, morador na vila, existem vantagens no desenvolvimento do Samouco e desvantagens do ruído, mas como “em todo o lado há barulho” prefere os benefícios da instalação do aeroporto.