O dilema do eucalipto

A Portucel que tem a maior fábrica de papel do mundo a laborar em Setúbal, sendo a segunda maior exportadora do país acaba de inaugurar um megaprojecto florestal de 2,2 mil milhões de euros) no distrito de Ile, província da Zambézia, em Moçambique. Até aqui tudo bem senão fossem a declarações de Pedro Queiroz Pereira, presidente do grupo industrial, a lamentar o facto de plantar ir eucaliptos em Moçambique em vez de Portugal, devido às resistências da plantação desta árvore em solo luso.

Esta é uma situação que deveria preocupar os dirigentes políticos e económicos do nosso país. Há muitos anos que se assiste a campanhas dos ambientalistas contra o eucalipto, realçando só os aspectos negativos e nunca os benefícios económicos para o país e os postos de trabalho que cria com a sua manutenção.

Ouvir um grande empresário que vai investir milhares de milhões noutro país porque não é possível no seu, é no mínimo triste, sobretudo quando precisamos de fortes investimentos para criar riqueza e emprego. “Só tenho pena que tenhamos de vir para tão longe quando isto até podia ter sido feito em Portugal se houvesse mais eucalipto”, declarou Pedro Queiroz Pereira, à margem da inauguração do maior viveiro de plantas em África, e que vai abastecer a futura fábrica de pasta de papel no centro de Moçambique. “Por respeito com aqueles que entendem combater uma plantação que é vital para este tipo de empreendimentos, acabámos por cair em Moçambique e achamos que para eles vai ser muito importante”, afirmou o investidor, salientando a perspectiva de 890 milhões de euros anuais em exportações de celulose, a partir do momento em que a fábrica estiver operacional, em 2023.

Queiroz Pereira vai mais longe ao afirmar que “em Portugal, há uma tendência para criticar o eucalipto, é difícil plantar, mesmo que exista, é complicado”, revelando que já há fábricas a importarem árvores para poderem produzir. “Aqui [em Moçambique] estamos a fazer uma base florestal com toda a gente a favor, não seria o caso em Portugal. Vai ser importante para a balança comercial [moçambicana] e as coisas têm condições para correr melhor”, referiu o presidente do grupo Portucel-Soporcel, comentando que “todos os países do mundo procuram atrair investimento para fazer os crescer níveis de desenvolvimento do seu povo e uns criam mais, outros menos”.

De referir que o projecto florestal em Moçambique, ao longo de cerca de 350 mil hectares nas províncias da Zambézia e de Manica, “é muito grande e vai representar, numa só fábrica, mais ou menos o mesmo que a celulose produzida em Portugal”. Para já, não está prevista a produção de papel, “isso ficará para uma segunda volta”, mas o presidente da empresa entende que se está a fazer “uma nova Portucel em Moçambique”.

Estima-se que o viveiro, o mais moderno do grupo, tenha uma capacidade de produção de 12 milhões de plantas por ano, num projecto dirigido pela Portucel Moçambique, com uma participação de 20% do International Finance Corporation, do Banco Mundial. Segundo a empresa, foram respeitadas todas as normas ambientais num projecto que prevê um conceito de mosaico, em que um terço da área será destinado às actividades tradicionais das comunidades locais, num investimento que espera criar sete mil postos de trabalho.

Este lamento deveria ser ouvido pelos responsáveis deste país para que não se voltasse a repetir. Precisamos de investimentos que produzam riqueza de modo a sair desta crise financeira que parece não ter fim. Com situações deste tipo não vamos lá.